GENTE DA BAHIA – MESTRE BIMBA

 

 

 

Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, criador da capoeira regional, em Salvador. Foto: Arquivo/Agência A Tarde
Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, criador da capoeira regional, em Salvador. Foto: Arquivo/Agência A Tarde

 

 

MESTRE PARA TODA A VIDA

 

CHICO CASTRO JR. – repórter de A Tarde

 

Dentre todos os mestres históricos da arte da capoeira, Mestre Bimba, com sua figura altiva, sempre se destacou como um dos mais eficientes e rigorosos educadores populares surgidos nas ruas da Bahia. Sua metodologia, bem como seu perfil biográfico, ganham agora um estudo mais aprofundado no livro Capoeira regional e a escola de Mestre Bimba, de seu aluno Héllio Campos, o Mestre Xaréu.

Resultado da tese de doutorado de Campos em Educação, o livro explora o impacto que os ensinamentos de Mestre Bimba tiveram nas vidas de alguns dos seus alunos.

O livro é um estudo da pedagogia de Mestre Bimba e também um estudo biográfico – resume Mestre Xaréu. “O enfoque principal é saber como as lições dele influenciaram as vidas dos seus alunos e o desdobramento dessas lições e da própria vivência com Bimba – de forma educacional, cultural e mesmo na filosofia de vida de cada um”.

Segundo Campos, Bimba foi um daqueles mestres para toda a vida. “Em conversas informais nas rodas e seminários de capoeira, quem foi aluno de Bimba nunca se refere a si mesmo como ‘ex-aluno’. Eles se dizem aprendizes desse legado o tempo inteiro. É um legado educacional e moral da vida vivida naquele ambiente da capoeira regional”, conta.

Na escola de Mestre Bimba, pessoas das mais diferentes classes sociais conviviam de forma harmônica, como iguais. “Ele tratava todo mundo de forma igualitária”, garante Xaréu.

– Entrevistei 14 alunos de Bimba. O sentimento deles é sempre de gratidão pelos ensinamentos que receberam e que utilizam nas suas vidas, nos seus cotidianos. Bimba era algo muito maior do que um professor de capoeira, aquele que transmitia os golpes da capoeira. O que ele passava era uma filosofia de vida – estabelece.

Sua influência, para Campos, era similar a de uma figura paterna, mesmo. “Ele é visto pelos seus alunos como alguém que deu suporte em algum momento da vida, estimulando-os a estudar. Hoje, todos os seus alunos estão formados e bem situados na vida”, diz.

E tudo começava de forma muito simbólica: no primeiro dia de cada aluno, Bimba pegava os alunos pela mão e, assim, os ensinava a gingar.

Outro aspecto interessante do livro é a forma que Bimba encontrou para ressignificar a capoeira, criando a versão regional, ajudando a retirá-la da marginalidade e reabilitando-a como luta, uma arte marcial mesmo. “Bimba estava descontente com a capoeira praticada naquele momento (primeiras décadas do século passado). Estava perdendo suas características de luta e símbolo de resistência, virando uma coisa folclórica, ‘para inglês ver’”, define Campos.

– Em 1928, eu criei, completa, a (capoeira) regional, que é o batuque (luta onde só se utiliza as pernas para derrubar o oponente) misturado com a angola (capoeira primitiva, de raiz), com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente – disse o próprio Bimba, citado no livro A saga de Mestre Bimba (1994), de Raimundo Cesar Alves de Almeida.

Bimba ressignificou a capoeira – declara Mestre Xaréu. “Alguns autores dizem que esse momento de criação da capoeira regional foi um divisor de águas, o surgimento de uma nova arte”, acrescenta.

 

(Sequência abaixo – MEIA-LUA DE FRENTE COM ARMADA

Aluno A – Meia-lua de frente com perna direita; meia-lua de frente com perna esquerda; armada com perna direita.

Aluno B – Cocorinha, esquerda e direita; negativa com perna esqurda.

Aluno A – Sai de Aú.)

Imagem extraída do livro Capoeira Regional: a Escola de Mestre Bimba
Imagens extraídas do livro Capoeira Regional: a Escola de Mestre Bimba

 

DA BAHIA PARA O MUNDO

Nascido Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba (1900-1974) era filho de Luís Cândido de Machado, caboclo de Feira de Santana, e Maria Martinha do Bonfim, negra do Recôncavo.

Segundo Héllio Campos, Bimba deu os primeiro passos na capoeira aos 14 anos, com o pai, que foi campeão de batuque, e com Mestre Bentinho, africano que era capitão da Companhia de Navegação Baiana.

– Bimba pegou esses ensinamentos da chamada capoeira-mãe de seu pai e de Bentinho e criou a capoeira regional –conta Campos, que foi aluno de Bimba entre os anos de 1966 a 1972. “Naquela época, a capoeira ainda era mal vista, coisa de marginal”, lembra.

Felizmente, esse tempo já ficou longe, e hoje, a capoeira é mundialmente praticada, admirada e respeitada, ganhando espaço até nos filmes produzidos em Hollywood.

E para celebrar Mestre Bimba, suas lutas – a que ele criou e pela qual ele lutou – Héllio Campos lançou no dia 8 de julho seu livro com exposição de fotos e um show de capoeira em um shopping de Salvador.

– Bimba levava sua arte aonde podia. Ele queria tirá-la ‘debaixo do pé do boi‘, como ele dizia, e leva-la para o mundo. Até Getúlio Vargas o aplaudiu no Palácio da Aclamação, em 1953 – conclui.

(Transcrito do Caderno 2 de A Tarde, de 8.7.2009)

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10 Respostas to “GENTE DA BAHIA – MESTRE BIMBA”

  1. jose carlos Says:

    olá sou baiano nasci e me criei no sertão da Bahia e aprendi capoeira aqui. quando tinha 20 anos ingressei na capoeiragem, 22 de capoeira me orgulho de ser baiano e capoeira. aprendi angola e regional, e as 8 sequências de mMstre Bimba. no momento estou fazendo um trabalho social com crianças, Associação Brasileira Desportiva de Capoeira, Mestre Primo da Bahia

  2. rodrigo Says:

    a capoeira q eu adoro

  3. Dida (Araras-sp) Says:

    Tenho 48 anos e voltei a treinar após 20 anos, capoeira é esporte, é luta, é filosofia de vida, é sem dúvida a maior expressão cultural brasileira, viva mestre Bimba!!

  4. geraldine monje Says:

    fue un muy buen mestre ojala yo llegue a esa instancia

  5. Leandro Donizete Says:

    Capoeira pra mim é tudo o que há de bom!! Já tentei praticar outros esportes, mas sabe como é a mandinga, a malandragem, a cultura da capoeira, então voltei de novo pra ela…

    O bom da capoeira é que ela nunca te abandona, mas você abandona ela.

  6. beitinho Says:

    antigamente capoeira para mim era só momentos, hoje em dia capoeira para mim não são só momentos, mas sim aprendizado do qual eu tenho muito que aprender.

  7. Joelson cordão de prata Says:

    Olá, escrevo a partir de Angola. Arte capoeira para mim é a valorização do negro em toda parte do mundo, arte suave e respeitosa. Viva Mestre Bimba

  8. popeye pinheiro Says:

    olá, sou capoeirista em portugal no grupo de capoeira porto da barra e gostaria de saber como obter o livro a saga de mestre bimba, livro do mestre itapoan….

    muito obrigado
    salvé

  9. Roberto Montenegro Says:

    No que tange à sequência criada pelo nosso mestre, na primeira parte, da MEIA LUA, o aú é executado por trás e não pela frente conforme a gravura demonstra.
    (falha nossa).

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