FESTA NO GANTOIS

Mãe Carmem, yalorixá do terreiro do Gantois Foto: Xando P. / Agência A Tarde - 7.8.2007

por JOSÉ MEDRADO

Fui convidado por Ângela para ir, no sábado, ao Terreiro do Gantois, onde se estaria festejando os sete anos, como yalorixá, sacerdotisa, de sua mãe e condutora daquele rebanho.

Lá estava Mãe Carmem sentada em seu trono, como deve ser uma verdadeira rainha, nimbada de luz e simplicidade. Venci a pequena multidão que se aglomerava vendo um vídeo em sua homenagem e lhe tasquei um apertado abraço. O organizador do vídeo não gostou muito, afinal, o intruso, eu, estava tirando a atenção de sua líder, do trabalho que certamente ele fizera com muito amor. Não me importei com os resmungos, aproveitei o abraço e senti aquela vibração doce, meiga, simples, de dar vontade de não querer sair mais daquele enlace. A sua gentileza me fez sentar ao lado da tríade da festa: a pastora e suas filhas.

Desenvolviam-se as homenagens e ali eu refletia: como pode, Deus meu, o homem ser tão arrogante em achar que a sua religião é a melhor, a mais completa, a que eleva mais? Se ali eu via Deus naqueles olhos, naquela suavidade bendita que promanava daquelas almas embevecidas diante da singeleza de sua pastora.

Conheço Mãe Carmem já há um certo tempo e sempre, em sua presença, senti o aroma bendito de uma alma elevada que não busca se passar por…, simplesmente é. É abençoada em sua missão, guardando em seu jeitinho manso a brandura dos que têm a consciência tranquila, pois bem cumpre o seu desiderato.

Mãe Carmem não interpreta o papel de humilde, como muitos, em todas as religiões, envergam por aí. Absolutamente! Ela é naturalmente despretensiosa e boa. É realmente mãe de sua gente, de sua comunidade.

Alicerça-se em minha alma, cada vez mais, a convicção de que a religião melhor está na que responde ao que você busca, na que dá paz à sua alma, na que responde aos seus questionamentos, na que o induz a fazer o Bem. Essa será a sua melhor religião, pois vem ao encontro do seu vazio específico, de sua necessidade própria. Assim, o Espiritismo me completa, fazendo-me melhor e a sua religião, caro leitor, completa-o. Então, por que combater esta ou aquela religião, por arrogância, por despotismo? Não é nada religioso combater em nome de religião, de fé.

Preocupa-me, deveras, este sentimento silencioso e infame que vai ganhando corpo, aqui e ali, em algumas correntes evangélicas contra as religiões de matriz africana. Tomam vulto porque detêm o poder econômico e político. É preciso que as autoridades não se detenham no medo, no receio do combate a esses intolerantes, para que a multicultura religiosa de nosso povo não venha ter a nódoa da transigência do poder.

Cantei parabéns, conheci os ambientes sagrados da Casa e fui embora, pois percebi que não tinha caruru, e eu adoro esta iguaria, mas Mãe Carmem é de Oxalá e tudo dele é branco, logo sem lugar para azeite. Que pena, quem sabe, em uma outra festa!?

Espero um dia ver a história do Candomblé e seus orixás ser contada em nossas escolas, pois deveria ser motivo de orgulho: temos uma mitologia pura e muito rica, made in Brazil.

 

José Medrado. Foto: Margarida Neide / Ag. A Tarde - 6.7.05

José Medrado é espírita, fundador e presidente da Cidade da Luz

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